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pilha e esgotamento de um músico independente

Foto do escritor: mario arrudamario arruda

Foto: Régis Bezerra


depois da tour de um mês por SP, do Festival Avante e do lançamento de Nostalgia, a gente parece que deu uma cansada, ficamo esgotado mesmo. parece que se esvaiu muita energia, viramo do avesso o copo de suco


é foda, mas isso já é um lance cíclico na banda, nem mal nem bom, mas uma realidade que a gente já viu acontecer em muitos outros momentos... inclusive a gente já teve muito pior...


a fita é que ter uma banda independente é fazer 100% dos corres. a gente compõe as músicas, faz a produção musical, mixa, muitas vezes masterizamos também. Direto a gente faz as capas também (como rolou agora em Nostalgia). uma época a gente fazia até os clipes... redes sociais a gente cuida tb, marca os shows, faz a distribuição digital das músicas, faz a assessoria de imprensa, divulga os shows, monta palco, somos nossos próprios roadies sempre... tem vezes que a gente também faz o papel de técnico de som...


luxo é quando a gente tem o Filipi Filippo fazendo os visuais das capas, o Olímpio Machado fazendo o som com a gente (ao vivo e nos fonogramas) e uma galera foda de equipe nos audiovisuais...

mas isso é hard de viabilizar...

muitas vezes essa galera chega com a gente na parceria, ainda que a gente sempre fique em busca de juntar uma grana e distribuir com toda gente que tá junto...

tem momento que até pra viabilizar a própria produção dessas paradas já complixx


lance é que não é sempre que dá...

somos em dois pra fazer todo o corre. e ninguém vive de ar ou tem uma herança pra ficar só de bobeira e curtir só de som.

a vida dupla é a maior real aqui pra nós. Leo sempre trampou com publicidade ou administração, eu sempre trampei com pesquisa acadêmica e atualmente to trampando com produção musical e mais uns raros freelas acadêmicos...


aí imagina...

tu trampa pra caralho pra pagar aluguel, se sustentar, se manter

aí tu também trampa afu na banda...

chega uma hora que tu tá só a capa da guita, tomando ruim na chuva e tentando se proteger...

pensa em dois, carregando mil equipas...

(((foi meio isso que rolou no último show... ficamo puto quando dois Ubers cancelaram kkkkkk))))


a fita é que pra uma banda independente a grana é sempre hard...

o normal é que as pessoas que tocam invistam grana, raramente tirando algo pra si


sei lá...

é visualizando isso que eu fico bem de cara quando alguém diz que é fácil ser músico, que é fácil conseguir espaço, que música não é trampo...

com essa realidade de vida dupla, o cara tá sempre dando mais que pode

ou sou eu que sinto isso... direto fico meio doente, meio abalado psicologicamente, entro numas bads

pq viro o suco todo, acreditando na música, entrando no fluxo do som


agora dá pra alguém perguntar: pq faz então?

as vezes eu também me pergunto... se pá, pesquisei arte e música em toda minha trajetória acadêmica tentando entender isso...


hoje só posso dizer que simplesmente acredito na música

em vários sentidos...

culturais, sociais, estéticos, vitais...

a real é que é isso.. a real é que é um lance muito vital.

pra mim é impossível conceber uma vida sem música.

é o que me faz

é simplesmente o que me faz, me constrói, me faz pilhar

e ao mesmo tempo é também o que me destrói muitas vezes


talvez esse seja um modo intenso, exagerado de viver

mas eu me sinto vivo

quando consigo dizer algo que precisava dizer em uma música

quando consigo chegar em uma sonoridade que queria ouvir, que me coloca em movimento

quando to tocando em um palco, sinto uma guitarra rasgar,

sinto uma virada sonora,

sinto o sub grave no meu peito.

meio que é tudo sobre isso...

esse ir e vir

essa construção e essa destruição

essa energia e esse esgotamento


os amores e vícios

de se estar conectado com a música

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